FRONTEIRA




   Está escrito lá no Aulete:
(fron.tei.ra)
sf.
1. Linha divisória entre territórios ou países; DIVISA; LIMITE
2. Região próxima a essa divisa.
3. Soc. Separação, divisão ou diferença entre os vários grupos sociais.
4. O ponto máximo a que se pode chegar: A imaginação não tem fronteiras
5. Fig. Limite entre dois espaços físicos ou conceituais (fronteira da resistência).
[F.: Do fr. frontière.]


     Mas toda fronteira tem limite, pois ela também supõe um espaço comum que não é nem de lá nem de cá. Acontece que este espaço comum não precisa ser exatamente dentro daquela linha imaginária que, quando se vem de lá está escrito "França" ou quando se vem de cá, está escrito "Itália". Como se naquele ponto exato pudéssemos encontrar soverte de camembert com cobertura de parmesão.

     O limite da fronteira, este espaço comum está dentro daquilo tudo que encontramos aqui, acolá e além de lá. Aquilo que faz a gente viajar e se encantar com tudo que é novo e diferente, mas que também faz a gente suspirar ao encontrarmos algo quase conhecido, algo que nos faz, por um momento, piscar os olhos profundamente, segurar a respiração e se perguntar "onde estou mesmo?" Quase como uma madelaine de Proust, que nos transporta para os limites desta fronteira.
    
     Antes vendessem sorvete de camembert com cobertura de parmesão, mas não. Isso não seria fronteira. Seria, por assim dizer, franco-italiano. O limite da fronteira seria percorrer um mercado de um vilarejo italiano repleto de azeitonas, limões sicilianos, pestos, pastas, gelatos e encontrar um camembert "travestido" de parmesão, sabendo falar italiano, se comportar como italiano; tudo isso porque ele é camembert nascido na Itália. E você, ao ver um camembert daquele jeito suspira porque encontra um pouco de chez-soi chez les autres, sem ter esperado encontrá-lo. O limite da fronteira tem assim, um "quê" de surpresa.

     Melhor ainda, pra além do camembert é se deparar com uma nêspera, ou ameixa-amarela, como queira, que colhia não sei mais em qual jardim. E o pastel, aquele que a avó das minhas primas fazia, igualzinho. E o falar com as mãos, como muitos paulistas...e os meninos que fizeram da praça um campo de futebol, as ondas do mar que quebram na areia, as casas empilhadas como numa favela colorida. Se não fosse o pôr-do-sol em pleno mar eu estaria em outro lugar. Mas de fato estava nesse lugar comum, neste limite de fronteira, que reaviva a memória sobre um lugar qualquer, um lugar comum onde tudo acontece, onde sabemos quem somos e de onde viemos. Um lugar chamado coração. Nele não tem fronteiras.