Ser no plural - papo filosófico

Há tempos fui seduzida pela filosofia fenomenológica e sua visão sobre a existência das coisas e seres no mundo.
Nada/ ninguém é por si, mas tudo depende da correlação que estabelecemos entre "eu" e o "mundo". Fui a tal ponto da reflexão que chemei esta correlação de "moi-monde-autres". Em francês mesmo, pois parece ter mais sentido. Tudo isto para poder explicar, de um ponto de vista fenomenológico, as relações interculturais e, num último esforço, a antropofagia brasileira dos modernistas...
Resumindo de maneira grosseira: cada um de nós é no plural. Com mais ou menos grau de consciência dessa existência singular. eu sou porque outros são em mim e para mim.

Complicado? Não! Veja só: sozinho e isolado do mundo o Homem deixa de Ser.

Filosofia à parte, existe uma outra forma de existência: ser no plural também é portar uma vida dentro de si. Mas este tipo de existência é reservado aos seres fêmeas dotados da capacidade de engravidar.
Já ouvi dizer que a mulher entra no auge da sua feminilidade durante a gravidez. Eu penso diferente e prefiro assumir um discurso um tanto feminista (oh!).
São os seres fêmeas dotados da capacidade de engravidar que SÃO plenamente durante a gestação. Cabe aos seres machos, SER incompleto, uma vez que a relação "eu-outros" é de ordem metafísica. Enquanto nós, fêmeas gestantes, estabelecemos, além desta relação metafísica, uma relação FÍSICA com os "outros".
Há seis meses e meio experimento, no sentido fenomenológico da experiência, esta relação física entre "eu-o mundo- e os outros". Carrego dentro de mim dois outros seres completamente diferentes de mim e diferentes entre si.

Esta relação antropofágica (no sentido dos Modernistas brasileiros) se completará daqui poucos meses, com a explusão desses "outros" do meu corpo. Só então a correlação estará completa, quando os outros dentro de mim puderem experimentar "eu-mundo-outros" sem passar pelo intermédio do meu corpo e, quando eu puder compreender que esta relação física é efêmera: ao retomar a condição de ser que volta à experiência metefísica dos outros, carregarei não no ventre, mas nos braços dois outros seres deste mundo.

E serei sempre no plural.