XIXI EM NEUILLY

O sucesso dos programas realities exibidos pela cadeia televisiva mostram que vídeo-câmeras estão na moda, mesmo se o custo de produção/intalação forem caros : pela Internet pode-se vigiar dentro de casa, fora de casa, o muro da calçada da casa. Com o auxílio da banda larga, da até para vigiar um bebê dentro do quarto, mas também a babá. Todo movimento é colocado à prova. Mania de perseguição não é à toa. Uma reportagem publicada pela CNN em 2008 mostra que pesquisadores estão convencidos da ligação entre a cultura popular e saúde mental no que nomeiam de síndrome de Truman, como no filme “The Truman Show” (título em inglês), protagonizado por Jim Carey. Se o exemplo serve para a vida privada, serve também para a vida pública, uma vez que inúmeras cidades brasileiras já instalaram nas ruas suas cameras de vigilância. Segundo os dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, são 264 câmeras em funcionamento na capital monitoradas no Centro de Operações da Polícia Militar, onde trabalham 60 policiais.
O método é considerado eficaz pelo governo municipal, contudo, sucita por parte da população a reflexão sobre a liberdade dos indivíduos colocados sob controle generalizado e sem garantias sobre o uso das imagens registradas.
Duzentas e sessenta lhe parecem muitas? Imagine Paris, que em 2011 deverá ter mais de 1000 cameras para uma população de 2.193.031 hab. (dados de 2007) em uma superfície de 105,40 km2 contra uma população de 11.037.593 hab. (IBGE 2009) em s u p e r f í c i e de 1 . 5 2 3 k m2 para São Paulo.
Não creia que a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo pense na tua liberdade com suas centenas de câmeras de vídeomonitoramento. Assim como nos realities shows, o programa custa caro ao orçamento público “A implantação do sistema de videomonitoramento na cidade de São Paulo foi dividida em duas fases. O Governo do Estado investiu R$ 6 milhões na compra de 102 câmeras, nas instalações da central de monitoramento, no programa de computador para seu funcionamento e no treinamento dos policiais operadores. A segunda fase, com um investimento de mais R$ 6 milhões, ocorreu com a instalação de outras 162 câmeras” (dados no site da SSP-SP).
Na França, a Assembléia acaba de aprovar a Lei Loppsi 2 que prevê, entre outros, multiplicar por três o número de câmeras de vídeomonitoramento instaladas no país. Serão 60.000. Economias com o novo plano para a aposentadoria, que resultou numa greve geral no último dia 7 de setembro e despesas com segurança pública. Ou melhor, privada, pois é a liberdade do indivíduo que se visa. Resta assinar os abaixo-assinados contra a medida e esperar que a caça se volte contra o caçador: um dia quando deixar de ser presidente, atrasado para uma entrevista numa rede televisiva onde participará de um realitie show, Sarkosy pare seu carro na rua para fazer um xixi. Pego em flagrante, uns dias depois, recebe uma carta: “senhor ex-presidente, se quiser fazer xixi, volte para Neuilly”.