364 e 9 décimos.
Sei porque tenho um calendário grudado na porta da geladeira. Conto um por um, senão perco as contas. Tenho um problema com o tempo porque as minhas asas não batem como as badaladas de um sino, nem como os tic e tac do relógio.
Achei que ontem fosse outubro, por exemplo.
Tinha uma piscina voltada para o céu e um horizonte estendido em cidade. Tudo meio infinito aos meus olhos.
Inclusive você.
Infinito é uma pilha sem fim de papel extenso que imprime um no outro: você, em você, em você,... em mim.
Empilhou-te de outubro a ontem e mais nos dois terços de hoje. Tempo extenso e condensado. Um pouco como a concha em forma de espiral que você carrega nas costas. Quando vai se de-sen-ro-lan-do ganha uma outra dimensão.
Dizem que o universo é meio assim, que ele também tem um problema com o espaço-tempo, que outubro era você e ontem era eu. E às vezes, o contrário, senão tudo junto.
Já que não posso ir pros confins do universo, eu bem que te pediria para que te despisse da tua casa, para que eu possa puxar o fio da tua espiral e verificar se essa história de outra dimensão é de verdade verdadeira.
Eu aqui falando de infinito e extenso porque é assim que eu gostaria que fosse. Sempre outubro. Um outubro imprimido no outro e no outro.
Mas no fundo, tudo isso é uma desculpa para te ver nu durante o décimo que resta, já que depois tudo revira, volta, recomeça.
Recomeça ?
Janeiro já chegou?